terça-feira, 30 de março de 2010

Entre o Céu e a Terra

Hoje quero indicar uma videorreportagem que tenho o prazer de exibir em encontros como palestras, oficinas e workshops.

Entre o Céu e a Terra
foi produzida pelo VR Marcelo Guedes. E aconteceu numa situação curiosa... Marcelo estava com uma aluna da Oficina de Videorrepórteres, na região central de S. Paulo, para uma aula de captação. O pauta era sobre a vida da população de rua.

No meio da aula, algo chamou a atenção do professor... E aí, para um jornalista preparado, com faro do repórter, e que tem a possibildiade de estar com uma câmera na mão, bingo! Marcelo viu um senhor entrando ou saindo de um buraco, não me lembro bem... Mas era um buraco que ficava dentro de um viaduto, entre o chão e a atmosfera... (daí o título da videorreportagem).

Quando percebeu a chance de contar uma boa história, Marcelo não se fez de rogado! Pediu licença para a aluna e pegou a câmera. Aproximou-se daquela cena e começou a gravar... Seu Osvaldo, logo começou a conversar com o VR. Começava aí a história da realidade cruel de um senhor que vive com as filhas na rua.

Vale observar que a história foi contada sem apelos ou abordagens sensacionalistas, típicos de telejornais popularescos quando falam desse tipo de assunto. A história desse personagem por sí mesma já era forte o suficiente... E Marcelo foi feliz ao optar por deixar o personagem contar sua prórpia história. Ele deu voz a quem nunca teve e foi ganhando a confiança da fonte, conseguindo inclusive entrar em sua "residência".

Ninguém melhor que o prórpio Osvaldo pra falar dessa realidade. A escolha dele para falar de si mesmo deu mais autenticidade para a história do que se ela fosse contada por uma equipe inteira de jornalismo, de uma forma mais tradicional... (fora que nem cabia uma equipe dentro da "casa" do Osvaldo. Sorte e sensibilidade do videorrepórter para perceber que tinha na frente um persongem que falava bem e fazer a escolha de como iria contar aquela história.

Outras diferenças de formato: No lugar do off lido, optou-se por colocar GCs com as informações básicas para o entendimento do assunto, como local, dados de população de rua, informações do personagem... Além dessa mudança no texto da matéria, a opção por não usar uma passagem ou plano-sequência foi acertada. Essas intereferências mais diretas do repórter, nesse tipo de linguagem, não caberiam muito, pois a narrativa escolhida para a história seria quebrada.

Foram apenas 12 minutos de material bruto. Marcelo teve também poder de síntese, outra característica importante para um bom VR.

Ausência de cores (PB): a ideia veio por causa de uma solução estética. Mas acabou dando um toque a mais na narrativa desta videorreportagem.

Foi assim: dentro do buraco onde vivia o Osvaldo havia apenas uma luz de vela. Marcelo lembrou-se de ligar o recurso do Night Shot da câmera, ou o infravermelho, para captações com ausência de luz.

Na hora da edição, para tirar a coloração verde da imagem, típica de gravações feitas com este recurso, pensamos: por que não deixar todo o vídeo em preto e branco, como se pudesse transmitir a sensação da total falta de cores que devia ser a vida de um sujeito com o o Osvaldo... Aliás, a pouca luz também contribuiu para dar uma textura granulada à imagem, tentando dar a impressão de um ambiente e uma vida rudes.

Funcionou! A matéria ficou permeada de bom jornalismo de denúncia mas imprimindo uma estética mais poética, mistura de documentário com videoclipe, numa linguagem muito particular.

Parabéns pela matéria, Marcelo. E pelo furo de reportagem também... Repare como dá pra ouvir o Osvaldo falar ao final do vídeo, que jamais alguém havia feito tal registro... Pra mim também foi uma aula!

Veja a videorreportagem:

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