Ao contrário das outras edições, optou-se por fazer um rodízio de professores diferentes a cada uma das aulas. Todos, fazem parte do corpo docente da USP.
Rodado em 1930, no próximo dia 17 de maio, o longa comemora 80 anos de sua primeira exibição, no Rio de Janeiro, em 1931. Hoje é um clássico do cinema mudo brasileiro, mas nem sempre foi assim.
Depois de gerar alguma polêmica em seu lançamento, o filme só voltou a ser exibido oficialmente muitos anos depois, na década de 70. Ganhou elogios, nacionais e internacionais de personalidades como David Bowie e Caetano Veloso, entre outros
Agora, para comemorar as oito décadas, ganha uma nova versão restaurada!
ABRINDO O CURSO COM CHAVE DE OURO
Em setembro do ano passado, ‘Limite’ foi restaurado pela World Cinema Foundation, do cineasta Martin Scorcese, em parceria com a Cinemateca Brasileira e a Cinemateca de Bologna , na Itália. E nós, alunos, tivemos a honra e o privilégio de assistir durante a aula à primeira exibição pública da restauração no país, depois de Oslo, capital da Noruega, numa disputada sessão no final do ano passado.
O que mais chama a atenção em ‘Limite’ são as questões técnicas e estéticas, extremamente avançadas para a época. A obra, porém - como comentado pelo professor -, nasceu no tempo errado: o cinema sonoro já começava a despontar, o que fez o interesse por ele ser menor do que se poderia supor, apesar das inovações.
Foi o único filme completo produzido por Mario Peixoto, que também se notabilizou como escritor. Aliás, Peixoto contou com uma colaboração imprescindível para realizar ‘Limite’: a prodigiosa e ousada direção de fotografia de Edgar Brazil.
Dessa forma, como ressaltou em aula o professor Calil, pode ser definido como um filme de dois autores, tendo a câmera como um quinto personagem de vida própria, que além de narrar também contracena com a narrativa.
Dessa forma, como ressaltou em aula o professor Calil, pode ser definido como um filme de dois autores, tendo a câmera como um quinto personagem de vida própria, que além de narrar também contracena com a narrativa.
A HISTÓRIA
Aos 22 anos, Peixoto era um poeta romântico sem experiência em cinema. Em conflito com o pai, voi uma imagem numa revista que he marcou: a face de uma mulher envolta entre dois braços de um homem algemado.
Decidiu, então, fazer um filme para falar da condição humana limitada - representada pelo limite físico entre o barco (mundo em que vivemos) e a água (universo de possibilidades além do nosso alcance). Fala da angústia e da passagem da vida. Em muitos momentos o filme é permeado por algumas metáforas de conotação erótica - mas nada que beire a baixaria…
Decidiu, então, fazer um filme para falar da condição humana limitada - representada pelo limite físico entre o barco (mundo em que vivemos) e a água (universo de possibilidades além do nosso alcance). Fala da angústia e da passagem da vida. Em muitos momentos o filme é permeado por algumas metáforas de conotação erótica - mas nada que beire a baixaria…
São quatro personagens, três deles principais: um homem e duas mulheres que estão à deriva num barco. Uma mulher que brigou com o marido alcóolatra, e pianista de cinema, outra que é uma fugitiva da prisão e o homem, que se relaciona com uma amante leprosa e teme ser castrado por isso.
Veja um trecho com os protagonistas:
A partir de então, eles discorrem sobre as dificuldades amorosas e as frustrações da vida, que vão se intercalando na narrativa, até o momento em que eles acabam juntos por conta do destino. O quarto personagem é uma participação especial do cineasta Mario Peixoto, que fez uma ponta em seu próprio filme - como ilustra a foto ao lado.
Rodado num sítio do tio de Peixoto, em Mangaratiba, na região fluminense do Vale do Paraíba, ‘Limite’ vale-se muito do cenário natural para criar sua narrativa. Hoje a cidade tem uma fundação responsável pela área de cultura do município que leva o nome do diretor, nascido em 1908 em Bruxelas, na Bélgica e falecido em 1992 no Rio de Janeiro.
FOTOGRAFIA
A direção de fotografia de Edgar Brazil é um tema à parte em 'Limite'.
Como já comentado, a câmera torna-se um quinto personagem que contracena com os atores e tem vida própria na narrativa do filme.
Ângulos e recortes de câmera pouco usuais para o cinema clássico (porém muito pertinentes à proposta de linguagem), muitas variações das tomadas numa mesma cena, planos-sequência muito bem pensados também são algumas das características possíveis de notar e dignas de citação para o olhar de Brazil, que junto de Peixoto conta a história de uma forma que parece moderna até hoje.
Na foto, uma das engenhocas construídas pelos dois para conseguir o resultado estético planejado para 'Limite'.
Veja a seguir um exemplo com um outro trecho do filme que simula a vertigem da personagem que pensa em se jogar ao mar, de cima de um penhasco:
Abaixo disponibilizo o filme, publicado na íntegra no Youtube:
Deixo aqui também uma indicação para quem quiser mais detalhes sobre o filme, um excelente post do blog Ares Libertários. Curiosamente, vale lembrar, apesar de escrito em 2008, está super atual e, de acordo com o autor, o paranaense Fabiano Baniski Franco, o único post do blog foi apenas um teste para entender o funcionamento da plataforma World Press e até hoje aparece como referência nas buscas do Goggle. Clique no link que vale a pena!
Semana que vem farei um novo post sobre a aula 02: 'Sangue Mineiro', do cineasta Humberto Mauro (1922), por Eduardo Morettin.
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2 comentários:
Muito interessante! Eu assisti à projeção e fiquei sorprendido com o filme, sem saber como comprendé-lo ou analisá-lo.
Obrigado, Albert! Fico feliz que tenha gostado. Tem novos posts sobre a cinemateca e os cursos. De uma navegada por aqui e continue voltando.
Abs.
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